Massa Crítica

Uma vez aberta aquela última portinha cujas barras pareciam tantas, tantas vezes mais largas que o espaço quase despresível entre elas, era pôr o pé do lado de dentro, ouvir novamente aquele estalo estridente logo atrás da nuca e não ter noção alguma de quando acordaria daquele pesadelo.

Lá estava eu novamente no palco, mas tão logo eu desse meu primeiro show, o público não iria embora. O público agora era minha família, e o palco, minha cama.



No mesmo palmo quadrado onde pus meus pés no interior daquele ambiente, ali cumprimentei a malandragem com todas as mãos e dedos de que dispunha e me agachei, tentando não ocupar mais que isso: dois palmos quadrados. Pudera! Não havia muito mais disponível naquela espécie de massa crítica da bandidagem, aguardando o projétil da ignição atômica.

Depois das devidas explicações a quem interessar pudesse, ali mesmo permaneci, ignóbil porém bem chinês, japonês, qualquer cidade desenhada na cabeça de um alfinete, assim. Mas, é foda. Não demorou muito para que eu esboçasse algum som com os lábios, e foi detectado instantaneamente.

- Hã? Aê rapaziada! Silêncio! O amigo aqui vai cantar um rap!

Bem.. me deram o microfone e lógico, deu merda - bom sentido. Eles ouviram o que queriam e pude relaxar a musculatura vislumbrando que não seria eu a detonar essa ogiva que ali esperava sua reação em cadeia; passei a fazer parte do bonde.

Um comentário: