Para entrar no corredor onde situavam-se as celas, o carcereiro não poupava a ênfase dos seus ruídos. Não era suficiente abrir os cadeados e os ferrolhos, era preciso emitir os agudos das ferragens batendo, indicando que chegava carne fresca. Durante muito tempo isso foi para mim como a oitava sinfonia, nos moldes da tortura vista no filme
Laranja Mecânica.À direita situavam-se as celas, onde se podia notar nas partes não descascadas da pintura da parede desenhos infantis, extamente como a parede do pátio de qualquer creche abandonada. Por poucos segundos cheguei a pensar se aquele lugar não teria sido um colégio no passado, mas logo me recordei que ali havia sido carceragem do
DOI CODI. Não havia nada infantil alí no presente, tampouco no passado.

Ao pisar no corredor, na minha direção em sentido oposto uma avalanche de sons que incluíam palavras, ruídos de canecas e grades se batendo. Todos gritavam: "Vai morrer!". Não existe a palavra medo sem a palavra morte, e vice-versa, de maneira que junto com aquele som veio também o medo, me fazendo tremer em harmonia com as paredes e as grades. Era preciso reagir aquilo tudo, e minha única ferramenta naqueles pouco mais de 15 passos através do corredor até aquela que seria a minha casa por eternos 30 dias era o raciocínio, que logo me perguntou: "Se todos que entram vão morrer, como ainda há gente viva gritando ai dentro?". São todos bósons de higgs, diminuem a velocidade ao atravessarem meios mais densos, mas sua existência como matéria não pode ser comprovada.
Passou a tremedeira, o medo e até o barulho cessou.
Será que havia mesmo barulho?
Gostei muito! O autor tem estilo e experiência!
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