Arquitetura Risc
Por meio de palavras-chave específicas, eram regidas as atividades relacionadas à 'ligação'. Um outro apelido para este conjunto de atividades é 'xapú', que em sua vez nada mais é, que a pronúncia inversa da segunda pessoa do singular do verbo puxar. Quando por exemplo, alguém deseja enviar um recado para outro alguém na cela número 4, o procedimento é:
- Responsável pela ligação grita da grade: Atenção ligação da B4!
- um breve período de silêncio, a resposta...
- Dá o papo! - e vem a instrução de início de transferência de dados...
- Xapú na terê!
O ligação da B4 começa a puxar a tereza vagarosamente, como quem pesca num aquário de piranhas uma nota de um galo. A missão de quem envia é garantir o bom fluxo da corda com seus nós sujos e despadronizados para que levem a mensagem até o destino com êxito. A missão de quem recebe em sua vez é garantir o recebimento. É importante neste momento deixar bem claro qual a missão de cada um no posto em que ocupa para - no momento em que algo sair errado - não haver dúvidas quanto a quem deve se
sentar no miolo.
A mensagem também deve respeitar certos padrões de formatação e, acima de tudo, de postura. Deve possuir um cabeçalho indicando sua origem e texto introdutório contextualizando o assunto. É vital para o sistema e por esta razão também possui um responsável em cada coletivo, o caneta. Outra tag obrigatória nas mensagens via xapú é o destinatário. Ao retirar a mensagem da tereza, o ligação imediatamente identifica o destinatário e entrega em suas mãos. Se o destinatário for 'todos os irmãos do coletivo', a mensagem será lida em voz alta para todos da cela pelo próprio xapú ou pelo responsável pelo coletivo, o frente.
Caso o destinatário deseje enviar uma mensagem de resposta, provavelmente acionará o caneta, que nada mais é que alguém que sabe escrever (não precisa saber ler, para não invadir a privacidade da mensagem) e que entende o formato do xml padrão das mensagens via xapú.
Num dia feio como qualquer outro, pela madrugada, o som das trancas em meio a pancadas e gargalhadas anuncia que vem chegando um time de pelo menos uns quatro.
- Você, vai ficar aqui. Entra ae malandro!
- Beleza cupadi né? Boladão, um cinco sete... é nóis, é nois. Ae rapaziada, quem é o frente aqui da cadeia?
- TCHÁCK! A porta se fecha logo atrás da nuca do meliante, que dá aquela ciscadinha de susto, feito um pintinho.
- Silêncio....
- E aí, rapaziada? Quem é o frente do bagulho aqui, num tem que ter um frente?
- Pode falar irmão, dá o seu papo que eu te escuto - se ouve grave e baixo de lá de bem do escuro no fundo.
- En.. então cupadi. - E inspirando o ar, continuou..
EusoufulanodetaldomorrodonumseiaondetaligadorodeinoassaltoumcincoseteboladãobagulhodoidoamigofoibaleadotaligadocupadibAGUlhofreneticomascomo,estamosjuntosnessamissaodessavidabandidanehnaocupaditahligado?- Alguns risos raros bem leves, trocas de olhares, e lá vem a pergunta: Num entendi mano, tem como falar de novo?
Continua bom. Não faça como eu que parei. Quanto mais se escreve melhor vai ficando.
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